por Anna Hartnell
Ora, muito bem. São onze Doutores e quase 50 anos de “Doctor Who”. É muita história. Mas você sabe como foi que toda essa aventura começou?
Se eu te contasse que foi tudo culpa de um buraco na programação da BBC e de um canadense fã de sci-fi, você acreditaria?
Você leu certo: um buraco na programação!
A série que todos amamos teve origens nada nobres: um projeto infantil do produtor Sydney Newman, nascido em Toronto (1917-1997). Recém-chegado na BBC no começo dos anos 1960, ele recebeu a missão de criar um programa para preencher o espaço no sábado à noite entre o programa esportivo “Grandstand” e o “Juke Box Jury”, um show musical em que celebridades julgavam os “singles” lançados na semana.
A única exigência da emissora era que fosse um programa que pudesse ser assistido por toda a família, como uma transição entre os dois shows (a audiência do “Grandstand” sempre foi masculina, enquanto a do “Juke Box Jury” era feita por adolescentes). De preferência, voltado mais para as crianças, que estavam mal representadas na grade de shows.
Sydney Newman, o “pai” do Doutor (foto de 1984)
Newman adorava ficção científica, e achou que esse era o veículo ideal para o programa pedido. O Reino Unido já estava numa onda de sci-fi mesmo: séries de sucesso como The Quartermass Experiment (1955) e A is for Andromeda (1961) já tinham pavimentado o caminho. Além disso, era o início da Era Espacial e da conquista do espaço – os primeiros satélites artificiais já tinham sido lançados e começava a se falar em mandar o homem à Lua. Ou seja, o espaço era O Lugar para se explorar.
Com tudo isso em mente, Sydney criou a ideia de um misterioso personagem alien em uma nave que era maior por dentro do que por fora (eliminando assim grandes gastos com cenários – algo que se repetiria nas décadas seguintes…), viajando pelo tempo e espaço em busca de aventuras. Assim, poderia ensinar Ciência e História de uma maneira menos chata. Ideia genial, vai dizer?
(Se você está chocado, saiba que até hoje DW é considerado um programa infantil pela BBC, e exibido em horário compatível com sua classificação de idade – seis e meia da tarde de sábado).
Para facilitar ainda mais o aprendizado, Sydney achou que seria legal se o Doutor tivesse companheiros de viagem – gente que pudesse fazer as perguntas que o público certamente faria, e que o Doutor pudesse responder sem que parecesse forçado no roteiro. Surge aí o papel dos companions – os primeiros, Ian e Barbara, não por acaso eram professores.
O nome “Doctor Who” era provisório, enquanto ninguém aparecia com alguma coisa melhor. Só que chegou a hora de ir para o ar e nada de ideia melhor, então o improvisado acabou virando definitivo… Newman nunca chegou a batizar seu misterioso alienígena, e nunca realmente pensou em uma história de vida muito elaborada para ele. Primeiro porque, naquele tempo, não se pensava muito em arcos longos de história. Segundo porque, como veremos no próximo capítulo dessa saga, “Doctor Who” não era para durar muito tempo…
…CONTINUA
Este homem quase não foi o Doutor. Vocês verão como no próximo episódio!