A Tatiana Porto (@tatioldfield) teve o prazer de conhecer o 5º Doutor em pessoa, além de váááárias pessoas envolvidas na produção da série! Confira o relato emocionado dessa brasileira vivendo na Inglaterra!
Oi, pessoal do Doctor Who Brasil! É um prazer poder compartilhar com vocês minha experiência na Whooverville 6, uma convenção regional de fãs de Doctor Who que rolou na cidade de Derby, Inglaterra, em 30 de agosto. Eu sou originalmente de São Paulo e moro há quase 5 anos em terras inglesas (que é a minha paixão desde a infância), onde vim inicialmente para um mestrado em Biotecnologia e atualmente estou no último ano domeu doutorado em Bioquímica – sim, em breve serei uma Doutora!
Minhas primeiras lembranças de Doctor Who são por volta de 1995, quando comprei meu primeiro dicionário ingles-inglês e tinha várias referências ao seriado. Eu me lembro quando peguei por acaso DW passando no extinto canal a cabo People + Arts – não acreditei que tinham ressuscitado a série novamente – e lembro muito bem de acompanhar as aventuras do 9º Doutor (Christopher Eccleston) quando dava, e posteriormente as do 10º Doutor (David Tennant). Depois que me mudei para a Inglaterra em 2009, ficou bem mais fácil de acompanhar, seja a série nova quanto a clássica, que sempre tem espaço na programação, assim como investir no modo de vida whovian.
Eu fiquei sabendo da Whooverville 6 através do fórum Gallifrey Base. O que me chamou a atenção foi a lista de convidados, encabeçada pelo Peter Davison, mais conhecido como o 5º Doutor (e o meu Doutor clássico, excluindo-se o legendário Tom Baker). Depois que vi a maravilhosa homenagem aos clássicos Doutores no The Five(ish) Doctors Reboot (2013) e o mini-episódio Time Crash (2007) com mais atenção, fiquei encantada pelo Quinto Doutor e claro que fui conferir com calma alguns dos arcos clássicos da fase dele, como Ressurection of the Daleks, The Caves of Androzani, Castrovalva, Kinda e Snakedance. E sem contar que também fui conferir a carreira do Peter pós-Doctor Who, que é bastante diversificada e cheia de trabalhos super marcantes e dai virei fã de vez (e eu nunca fui fã de atores antes!). Eu tinha que dar um jeito de conhecê-lo por aqui em uma das brechas do doutorado e a Whooverville 6 tinha tudo para ser a ocasião perfeita, principalmente por ser uma convenção local pra começar, e com uma lista de convidados bem diversificada.
Depois de uma novela para chegar em Derby (culpa de um trem quebrado que atrasou minha viagem em 40 minutos), cheguei no meu hotel na sexta (29) e fui caminhando para o pub onde iria rolar um esquenta para a Whooverville 6 com os Whoovers (o grupo local de fãs de DW). Além de poder conhecer o pessoal, deu para vivenciar uma das tradições britânicas – o famoso pub quiz – em versao whoviana!
No sábado, eu estava super ansiosa para o evento (primeira convenção de Doctor Who e com o seu Doutor preferido) que só consegui me acalmar quando cheguei no QUAD, um moderno centro cultural mantido pela prefeitura de Derby. Tinham vários cosplayers, vários vestidos de Fivey (como chamamos o Quinto Doutor aqui), outros do Quarto e Décimo – estava no lugar certo. E logo montaram uma TARDIS e o Dalek na entrada… perfeito!
Logo fui para a fila dos autográfos do Peter, e deu para conversar bastante com o pessoal para passar o tempo, muitos ficaram impressionados de ver uma fã brasileira por ali. Trouxe o meu The Vault (que ganhei de presente de aniversário de uma amiga da uni) para o Peter autografar. Quando chegou a minha vez, eu estava a mil, tive que respirar fundo para poder aproveitar bem a experiência. Falei que era do Brasil e ele já foi logo comentando sobre convenções por aí, e comentei da Doctor Who World Tour, que a fanbase estava crescendo e muitos estão conhecendo os clássicos Doutores como ele.
Na hora do autógrafo, tive que soletrar meu nome (os britânicos sentem dificuldade de entender) e fiz uma versão usando o nome dos primeiros companions dele (com o T de Tegan, A de Adric, N de Nyssa e I de Infinity – do Arc of Infinity) e deu certo… e o Peter me perguntou se Tatiana é um nome do Leste Europeu, e eu disse que é de origem russa. Agradeci pela atenção e me despedi dele, com um sorrisão estampado na cara – tinha conhecido o meu Doutor! Mas essa não seria a última vez que eu o viria ao longo do dia.
Em um dos cinemas do QUAD (usado como auditório para os painéis com os convidados), fui conferir o painel de uma das companions do 2º Doutor (Patrick Troughton), a Deborah Watling (Victoria), no qual ela contou histórias sobre sua carreira, seja antes ou depois de DW. Assim que terminou o painel dela, fui conferir a mini-feirinha com produtos de DW,com fan arts, action figures e relíquias da era clássica. Fiz minhas compras e voltei para a fila de autógrafos do Peter mais uma vez (o esquema era 2 autógrafos de graça/visita à mesa, se quisesse mais, teria que pegar a fila novamente), desta vez para a minha melhor amiga do doutorado que também é whovian. Conversamos mais um pouco, falei que fazia doutorado em Bioquímica e o Peter ficou impressionado (Doutores sabem das coisas!) e desejou sucesso nos meus estudos.
Posteriormente, fui tirar minha foto profissional com o Peter (fotos na mesa de autógrafo eram proibidas) e eu estava bastante apreensiva, porque tava com medo de piscar por causa do flash (Don’t Blink a la Weeping Angels!), mas deu tudo certinho, ele foi adorável, super carinhoso e um fofo! Aí corri para poder conferir o painel do Michael Troughton, filho mais novo do 2º Doutor, e ele pôde contar como foi crescer sabendo que seu pai é um Doutor (os Troughtons estavam em férias na região da Cornualha quando o Patrick recebeu a ligação da BBC chamando para o papel), a relação pai e filho no auge da fama (muito distante e com um pai muito na dele) e a carreira dele – além de atuar, ele é formado em Física (ele sempre gostou de Ciências) e foi professor em escolas aqui. Uma história fascinante e emocionante, que me marcou – para ele, dar aula é como dar uma performance. E sem contar que vem mais um livro de lembranças do pai dele em breve, completando a biografia que ele escreveu há alguns anos atrás sobre o pai!
Um dos convidados que eu também queria conhecer era o Dominic Glynn, responsável pela trilha do arco The Trial of a Time Lord e da versão de 1986 do tema de abertura (uma das minhas versões preferidas). Primeiro, fui na mesa de autógrafos e trocamos ideias sobre os sintetizadores utilizados na época. Durante o painel dele, ele contou o quanto o tema de Doctor Who inspirou gerações de artistas e DJs de música eletrônica, além de curiosidades sobre o processo criativo. Ele aprovou o novo tema da 8ª temporada, que para ele é um resgate ao legado do icônico arranjo de Delia Derbyshire na versão de 1963. Em outras visitas às mesas de autógrafos, pude trocar ideias com a Deborah Watling e com o Michael Troughton. Ambos foram super educados e estavam contentes de conhecer os fãs.
Um dos painéis mais aguardados do dia foi o do Derrick Sherwin – ele é o único produtor da série nos anos 1960 ainda vivo, além de ter sido responsável pela escolha do Jon Pertwee como o 3º Doutor (e exilá-lo na Terra), criador da U.N.I.T. e do Brigadeiro e criador dos Time Lords – um depoimento histórico que emocionou a plateia. A idade avançada não o impediu de poder compartilhar momentos históricos com o público presente.
Outro painel bastante concorrido foi o do Terry Molloy, que fez o papel do Davros (criador dos Daleks) nos anos 1980 e também mais recentemente nos áudios da Big Finish (e só lembrando que ele faz parte do radio drama The Archers da BBC Radio 4). Uma das coisas que mais me chamou a atenção foi quando o Terry comentou que o Davros tem traços fortissimos de síndrome de Asperger (um grau de autismo) e como o personagem pode ser trabalhado como um modelo frente às demandas de inclusão presentes na sociedade britânica.
Para fechar o dia com chave de ouro, foi a vez do painel do Peter Davison, que estava super cheio e a galera ansiosa para conferir. Além de contar um pouco sobre sua sua extensa carreira, é claro que não faltaram histórias sobre a época de Doutor. Uma das partes que mais me chamou a atenção foi quando ele comentou das incertezas que bateram ao ser escalado para ser o Doutor – além da pouca idade (ele tinha 29 anos quando assumiu o papel) e da responsablidade de substituir o Tom Baker, ele queria estar à altura dos seus Doutores de infância (William Hartnell e Patrick Troughton) e não fazer feio – cheguei a registrar em vídeo esse momento!
Isso tudo sem contar com os problemas na produção da sua segunda temporada como Doutor, que foi gravemente afetada por greves na BBC e cortes orçamentários que pesaram no produto final. E claro, anedotas sobre o The Five(ish) Doctors Reboot, como cenas que não foram para o ar com o Colin Baker, e inclusive se o Tom Baker tivesse topado participar de verdade. O que mais me impressionou no Peter é como ele encara a carreira dele e vê o mercado de TV para poder dar os próximos passos. Não é à toa que dos Doutores clássicos, ele é o que ainda mantém uma carreira sólida na TV britânica (o último trabalho dele foi em Law and Order UK) e conseguiu conquistar o seu espaço sem viver da sombra de DW.
Pontos fortes da Whooverville 6:
– convenção de pequeno porte (200 – 250 pessoas), atmosfera super agradável e local com infra-estrutura adequada (em nenhum momento o QUAD ficou super lotado de gente), com acesso fácil para deficientes físicos (tinha elevador) e uma lanchonete/restaurante que deu conta do recado;
– Preço dos ingressos/fotos: os ingressos para estudantes custavam 25 libras, os normais 40 e crianças (5 até 12 anos) por 10 libras. O ingresso incluía autógrafos de graça dos convidados (excluindo os patrocinados por empresas de eventos de sci-fi como a 10th Planet Events/Fantom Events). Tem convenções de sci-fi por aqui que você paga 15 a 20 libras por autógrafo e/ou foto!
– Os painéis de todos os convidados foram filmados profissionalmente e logo sairão em DVD que estarão à venda através do fã clube dos Whoovers;
– A mistura de novos com fãs das antigas, muitos fazendo cosplay de seus Doutores preferidos, independente da idade;
– Muitos fãs e convidados fizeram bate-e-volta, Derby fica extremamente bem localizada dentro da Inglaterra, e bem servida de trens para várias regiões do país.
Para quem quiser conciliar uma visita por terras britânicas com uma convenção de DW e/ou sci-fi,recomendo conferir o site http://doctorwhoactorappearances.blogspot.co.uk/ que tem a agenda dos atores/atrizes da série em detalhes, assim como fóruns gringos/websites.
O que mais marcou nesta convenção foi poder sentir o quão querida Doctor Who é pelos fãs britânicos e a relação dos atores/atrizes com a fanbase, uma relação que é muito especial para ambas as partes. Isso me deixou mais à vontade de futuramente explorar outras convenções de DW por aqui. Tem algumas cuja venda de ingressos/fotos/autográfos são destinados as caridades que alguns atores apoiam à nível pessoal, como o Project Motormouth da Janet Fielding (Tegan), e que se vc se identifica com a causa, vale a pena investir.
Ter ido à Whooverville 6 foi uma experiência que marcou demais nessa fase de reta final do doutorado. Doutorandos compartilham muitas semelhanças com o Doutor em vários aspectos, em busca de sua identidade durante suas diferentes encarnações (no meu caso tem a fase do laboratório e depois de escrever a tese). Até o programa de suporte aos doutorandos da minha uni (versidade) se chama… Dr Who? (assim mesmo) e usam a TARDIS como símbolo do doutorado em si. Vou guardar as lembranças para o resto da minha vida e mais do que nunca, DW faz parte de quem eu sou como pessoa e me dá forças para continuar nos momentos mais difíceis.