Aperte o Play: conto inédito de Pete McTighe traz 13ª Doutora e Susan!

A BBC acaba de lançar mais um conto inédito da 13ª Doutora em seu site oficial: “Aperte o Play”, de Pete McTighe, que escreveu os roteiros dos episódios Kerblam! e Praxeus.

Confira a versão traduzida abaixo!

APERTE O PLAY

A Doutora estava se sentindo sozinha. Na maior parte do tempo, ela podia suprimir esses sentimentos e se distrair salvando um planeta, evitando uma guerra ou causando um ultracongelamento de emergência em filhotes de Krynoides. Mas hoje não. Hoje era diferente.

Hoje ela sentou nos degraus da sala do console da TARDIS, mastigando sua última bolachinha de nata, vendo o controle de cristal brilhante subir e descer.

Subir e descer.

Subir e descer.

Enquanto sua máquina espacial/temporal estava no Modo de Recarga Artron II, a Doutora não podia permitir mais ninguém a bordo, principalmente humanos – os pulsos artron causam estragos nos DNAs deles. Ela se lembrou com culpa do tempo dela com David Bowie, quando a pupila esquerda dele ficou permanentemente dilatada.

A Doutora suspirou, saboreando seu último pedaço de bolacha. O cérebro dela ainda estava trabalhando a todo vapor, no fundo, recuperando o maior e melhor disco rígido do universo, mas isso parecia entorpecido e distante. Se rabugice fosse uma emoção, ela estava sentindo isso.

Então, a TARDIS bipou. Um sonzinho peculiar e amigável que ela nunca tinha ouvido antes. Era como se a TARDIS soubesse o que ela estava pensando (o que, com certeza, ela secretamente sabia). Curiosa, a Doutora ficou de pé e, em resposta, um jato de vapor saiu assobiando do console. Projetado no meio do vapor estava uma linha de texto em Gallifreyano:

Você tem uma mensagem não lida.

“Que mensagem??” a Doutora deixou escapar em voz alta. “Desde quando você começou a receber mensagens?”

Desde eras atrás, a TARDIS respondeu numa série de zumbidos e assobios petulantes.

“Como você está tagarela! Onde você estava setembro passado quando acabaram meus monólogos?”

Só leia a mensagem, a TARDIS parecia ter dito.

A Doutora apertou um botão no console e então um holograma apareceu. Ela sentiu uma onda de emoções surgindo quando ela encarou o rosto na sua frente.

A garota estava no meio da adolescência, com um cabelo preto bem escuro, uma camiseta listrada e olhos brilhando com travessura. A visão dela quebrou o humor sombrio da Doutora como um ovo.

“Olá vovô”, disse o holograma.

A voz da Doutora ficou presa na garganta. “Olá Susan” ela finalmente respondeu. Isso claramente era uma gravação feita quando sua neta ainda era uma adolescente. Quando elas estavam viajando juntas, tantas vidas atrás.

A imagem de Susan estalou enquanto ela continuou falando: “Eu construí um banco de mensagens e um sistema de recuperação no núcleo de dados da TARDIS, para um dia chuvoso. No caso de você precisar se animar. Eu sei como você fica quando você está entediado, ou sozinho.”

“Como eu fico?”, rebateu a Doutora de forma defensiva.

“Mal humorado”, Susan respondeu.

A Doutora segurou seus suspensórios e franziu a testa.

“Eu sei que nada dura para sempre”, Susan continuou, “e que eventualmente nós teremos que nos despedir. Mas quando esse dia chegar, eu quero deixar você com algumas memórias do nosso tempo juntos.”

Os olhos da Doutora ficaram embaçados. Tinha um nó em sua garganta.

“Não só minhas, mas de amigos futuros. Tempos e lugares futuros. Eu ativei um modo de gravação da TARDIS, ligado telepaticamente à sua extração de dados. Então se você se sentir entediado ou sozinho ou triste, tudo que você tem que fazer é acessar o banco de dados e recuperar sua memória favorita. Ele vai se continuar gravando até que você peça para parar. Todas as suas aventuras, todas as suas histórias não vão desaparecer. Elas estarão sempre aqui, esperando por você, como um arquivo. Vivo para a eternidade.”

Atordoada, a Doutora assistiu uma corrente de textos aparecendo na tela. Velhas aventuras conectadas numa longa lista que parecia rolar para sempre.

“Algumas das primeiras aventuras podem ter algumas lacunas, desculpa por isso. Você sabe como a TARDIS é para integrar novos sistemas.”

A TARDIS resmungou em desaprovação.

“De qualquer forma, é melhor eu ir ou vou me atrasar para a escola. Espero que essa mensagem chegue a você algum dia. Quando você mais precisar.”

Com um sorriso final, a imagem de Susan cintilou e, então, evaporou. A Doutora encarou o espaço vazio por um longo tempo. Segundos, pelo menos. Então, ela entrou em ação, rolando através da lista infinita de títulos, incerta por onde começar. “Crisis on Poosh”, “Genesis Of The Daleks”, “Attack Of The Postmen”, “The Timelash”, “100,000 BC aka An Unearthly Child aka The One In The Stone Age”.

“O sistema de rotulagem inteligente é meio aleatório”, pensou a Doutora com seu dedo rondando o botão de ativação. Finalmente, ela selecionou – e apertou PLAY.

O console da TARDIS sibilou novamente. Resultado! As bolachinhas de nata foram reabastecidas! A Doutora ansiosamente arrancou uma do dispenser e se recostou para assistir imagens nebulosas se formando na tela.

Enquanto ela mastigava, ela decidiu que ela faria um FaceTime com Graham, Ryan e Yaz mais tarde, mas agora ela estava felizmente distraída com o presente que Susan tinha deixado para trás; um suprimento infinito de histórias; um cobertor confortável de memórias amáveis e antigos amigos.

E um lembrete.

Que ela nunca esteve sozinha.”

Mais uma vez, agradecemos a tradução da nossa apoiadora Michelle Mantovani!

Leia a versão original em inglês no site da BBC!

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