Jodie Whittaker na Stylist Magazine: entrevista completa traduzida!

Jodie Whittaker, a 13ª Doutora, deu uma entrevista para a britânica Stylist Magazine. Confira a tradução completa!

“É extraordinário ser a primeira Doutora mulher. Que seja um momento histórico, mas que isso siga em frente, de forma que não se precise mais falar sobre isso… isso seria legal.”

“Não devemos nos limitar a ter modelos que se parecem conosco. Esse é o futuro”.

Jodie levou sua mãe para a entrevista, além de sua filha, que tem três anos de idade – mas que ela não revela o nome.

Conte sobre o processo de testes.

Foi difícil no sentido de ser um processo longo, e por ter sido tão secreto. Descobri que tinha conseguido só depois do terceiro teste, e comecei a chorar.

Qual é a parte mais interessante da personagem?

Não há regras. Você é um alienígena, mas em um corpo humano, então fisicamente, você pode ser qualquer coisa. Isso é o legal do personagem – ele se reverbera pelo seu corpo de um jeito que nunca senti. Você está se mexendo – mentalmente ou fisicamente – de forma constante, e a energia dá uma descarga enorme de adrenalina. Quis interpretar essa Doutora como uma luz que preenche uma caverna pela primeira vez, e a maravilha que você vê a cada novo encontro: novos amigos, planetas e monstros. Tudo é novo.

O que os Doutores anteriores te falaram sobre o papel?

Tive sorte de falar com David, Peter e Matt antes do anúncio. Todos disseram que é totalmente diferente do que você já fez, e nenhum outro papel será igual. É extraordinário e irresistível.

Como você lidou com a reação dos fãs?

Tiveram compilações das reações das pessoas ao anúncio, o que é muito estranho de se ver. Vivemos uma época única, as pessoas colocam coisas o tempo todo na internet e você vê sua empolgação, e em alguns casos, o medo. Ao ver esses vídeos, de pessoas de idades diferentes e de diferentes mundos – e olha que eu nem comecei – é incrível, eles estão me aceitando como parte da família. Queremos fazer essa família crescer.

O fato da Doutora ser mulher é grandioso. Você sente que isso é importante?

É um momento muito importante, mas meio depressivo por ser 2018. Quero me divertir. Que interessante ser eu, e será assim pelo resto da minha vida. Mas não quero mais que seja uma surpresa. Espero que seja um momento pra gente perceber que heroínas podem ser mulheres. O filme Gravidade fez milhões de dólares. Mulher Maravilha fez milhões. Temos que admirar personagens independente do sexo. E é uma alienígena! Não podemos nos limitar a admirar pessoas como nós. É o futuro que queremos. Ter pontos diferentes sobre uma situação é interessante, e não amedrontador. O meu não é tão diferente. Às vezes parece que as mulheres são vistas como alienígenas.

Você reconhece o impacto que terá sobre as crianças, que são bombardeadas com brinquedos de gêneros e programas de TV desde pequenas?

Eu nem consigo começar a falar do quanto isso me deixa irritada. Cada momento do dia é difícil, quando pensamos nas mensagens subliminares que as crianças recebem da TV. Quando eu estava na escola, lembro o que estavam me ensinando, e não era sobre mulheres.

Qual foi a importância de negociar um salário igual ao de Peter Capaldi?

Não precisei pedir. Esse não é o tipo de programa que faz isso. Eu nunca teria aceitado menos, sou igual a todo mundo e nunca pensei em mim mesma como menos do que isso. Não quero que pensem menos de mim por fazer o mesmo trabalho, nenhuma mulher quer. Mas neste trabalho, não precisei pedir.

Mas que bom que você pode falar sobre um tabu.

É algo novo, não é? Temos que reconhecer que, quando se fala sobre algo, de forma passional, precisamos ouvir. É isso que me deixa empolgada sobre esses tempos, com essas vozes finalmente sendo ouvidas. Vamos olhar pra trás e ter orgulho dessa voz unida e o que conseguimos obter.

O quanto você acha que os movimentos #MeToo e Time’s Up mudaram a indústria?

Eu nunca sofri assédio. Ponto final. Quando me perguntaram pela primeira vez, respondi que era sortuda, e é horrível me sentir sortuda, mas é verdade. Sou uma sortuda por isso nunca ter acontecido comigo. Pensando bem, será que já sofri machismo? Não me lembro, mas sei o que fui ensinada a ver como normal. O que mudou é que todo mundo, homens e mulheres, agora são intolerantes com coisas que antes eram colocadas embaixo do tapete.

Agora, se alguém diz que algo aconteceu, ninguém irá convencê-la a não falar sobre isso. Está na hora de começarmos a ouvir. Essas pessoas estão se expondo e temos que respeitar e honrar isso.

A pressão do papel é enorme. Como você lida com o estresse?

Eu adoro vinho. Com meu sotaque, se estou em um restaurante, eles dão a lista de vinhos pra outra pessoa e eu digo “não, não, não!” Minha escolhe depende do que vou comer. Com as entradas, prefito vinho branco ou rosé. Eu adoro. Uma loja de vinhos é como uma livraria pra mim, fico imersa. No fim de um longo dia, tomo algumas taças de vinho.

Você passa muito tempo no set. Sua casa é importante pra você?

Você acaba se acostumando a transformar qualquer espaço em uma mini-casa. Eu sempre levo roupas demais, coloco minhas coisas pelas paredes para ser o meu espaço. O trabalho tem longas horas, mas não sou uma enfermeira. Eles me dão café, almoço, meus amigos me fazem sorrir, e finjo ser outra pessoa. É um trabalho extremo, você fica sentada por horas esperando eles arrumarem tudo.

Nesse meio tempo, eu mando um monte de mensagem por Whatsapp, procura por #braddersbangerz no Instagram, liga para seus amigos normais que se irritam pois têm empregos normais, e de repente alguém diz “vai, vai, vai” e você tem que estar pronto. A maior dificuldade é ir pra casa e não ter ninguém pra te trazer as coisas.

Como foi sua infância em Yorkshire?

Minha casa era animada. Tenho um irmão mais velho e fomos criados iguais. Treinamos críquete, futebol e squash. Sem querer, meus pais me criaram com um gênero neutro. Não havia barreiras, então era preciso ter senso de humor.

Eu fui encorajada a ter meu próprio mundo. Morávamos no interior, eu podia sair pra brincar, e ver filmes que não eram pra minha idade, pois eles sabiam que eu amava. Eles nunca me fizeram estudar pois não sou uma acadêmica. Para eles, contanto que eu tentasse e fizesse perguntas e não fizesse bullying, estava bom.

Eles achavam que trabalhar em grupo era tão importante quanto ser estudiosa. Eu não gostava das aulas, exceto educação física e teatro, e tinha um ego grande demais pra querer ser boa em algo. Meu consultor de carreira disse: “Apenas um em cada dez atores conseguem, e talvez você não consiga”. Tive sorte de ir pra casa e meus pais disserem: “Se você focar no seu plano B, nunca vai conseguir o plano A”.

Você fala muito sobre sorte.

Mas existe sorte. Eu tenho força de vontade, mas isso existe em milhões de artistas. Existe o lugar certo e a hora certa, e Venus foi assim pra mim. Eles podiam ter feito esse filme um ano antes de eu me formar, ou três anos depois quando eu já tivesse desistido. Eu recebi um bilhete dourado. Eu tenho crédito pela boa performance, mas eles que me escolheram. Aquilo foi pura sorte.

Seu marido também é ator…

Tenho sorte de ir pra casa e conversar com alguém da indústria, mas é só isso que vai saber.

Qual é sua próxima ambição?

Sinto que as possibilidades são infinitas. Adoraria fazer faroeste. As séries Godless e Westworld são incríveis, adoro quando os elencos são tão ricos. Doctor Who foi um ótimo item que cumpri na minha lista, mas não quero que seja o último.

O que te inspira?

Quando as pessoas se manifestam pelo que acreditam. Eu já deixei de falar coisas pelo medo da reação, então essas pessoas me inspiram.

Gillian Anderson twittou “Sim! #quebrando paradigmas #13aDoutora”. Você sente afinidade com atrizes que mudaram o rumo do gênero de ficção científica?

Não é afinidade. Eu as admiro. Existe um mito sobre atores – atrizes, principalmente – de que somos competitivas e não nos damos bem. O que sinto em minha carreira é amor e apoio da minha irmandade. Quando não consigo um papel, é legal ver outra pessoa fazendo. Um exemplo é quando fiz o teste para The Seagull no The Royal Court e perdi para Carey Mulligan. Fui assistir e pensei, “é por isso que não consegui”. Para atores, é muito bom ver coisas interessantes. E quando eles têm papéis masculinos e femininos e diferentes etnias, é mais legal ainda. Espero que um dia isso seja normal.

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A revista também divulgou um vídeo de Jodie reagindo as tweets das pessoas que não gostaram da entrada dela em Doctor Who! Sensacional! Assista já!

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