A História de “Doctor Who” IV – Como Nascem os Monstros

No último episódio, vimos como um atrapalhado e volátil ator desconhecido se tornou o Quarto Doutor, transformando o personagem de um dândi mandão em um homem excêntrico, por vezes amargo e até violento, escondido por detrás de um grande sorriso e cachecol maior ainda…

Tom Baker, do alto de seus invencíveis sete anos como Doutor, teve grande aventuras para contar dentro e fora dos minúsculos estúdios da BBC. Afinal, não se é o mais icônicos dos Doutores clássicos sem um pouco de folclore. Ele foi o primeiro a ter companions de fora da Terra (a feroz Leela, interpretada por Louise Jameson) e a ter a seu lado gente de sua própria espécie – no caso, a jovem e um tanto arrogante Time Lady Romana, que contou com duas regenerações (Mary Tamm e Lalla Ward, com quem Tom Baker veio a se casar tempos depois – muito ousado para a época! A união, porém, só durou um ano e meio).

O Doutor (Tom Baker) e Romana II (Lalla Ward) – brigas em cena, romance fora dela

As aventuras eram cada vez mais ousadas e ambiciosas, apesar do eterno problema de orçamento – a ponto de setores da sociedade, representados pela dona de casa e ativista Mary Whitehouse, reclamarem formalmente com a BBC dizendo que o programa não era coisa para crianças (qualquer relação com o que temos hoje em dia não é coincidência). E violência era o mote de uma das histórias mais famosas do período, em que conhecemos a verdadeira origem dos inimigos numero um da série: os Daleks.

Segunda aventura de Baker no comando da TARDIS, o arco “Genesis of the Daleks”, exibido originalmente no começo de 1975, foi considerado a melhor história de DW já escrita, em uma votação de fãs promovida pela revista Doctor Who Magazine em 1998. O criador dos Daleks, Terry Nation, queria contar como uma guerra de 500 anos entre duas tribos degringolou a ponto de um dos lados perder completamente a humanidade e se transformar nos monstros que tanto amedrontam três gerações de fãs. O resultado é um épico em que totalitarismo, armas nucleares e discussões éticas tomas conta da tela.

A aventura de “Genesis of the Daleks” colocou o Doutor em uma situação única: os Time Lords seqüestram seu filho renegado e fazem com que ele aterrisse em Skaro, o planeta dos Daleks, para impedir que eles sejam desenvolvidos pelo cientista Davros – salvando assim Galifrey da guerra que futuramente lhe consumiria.

Para resumir sete episódios, o Doutor tem a chance de explodir os laboratórios onde estão sendo desenvolvidos os Daleks, o que causa um nó moral na cabeça do Homem de Galifrey. Não é a primeira vez em que ele se vê diante da destruição de um inimigo, e o personagem nunca foi de grandes escrúpulos nesse sentido na série clássica (pelo menos nas encarnações de Hartnell e, em menor medida, na de Pertwee). Porém, Daleks ou não, trata-se de genocídio – a fronteira final na série. Será que o Doutor é capaz de fazer o que os seus inimigos fizeram, de certa maneira, com seu povo? Estaria ele certo de acabar com uma raça inteira, mesmo sendo justo a raça mais odiosa que já existiu?  

(Já está com dor de cabeça de pensar em tudo isso? É, eu também…)

A cena chave de “Genesis…” – explodir ou não o laboratório dos Daleks?

“Genesis of the Daleks” é também importante para os fãs da série atual por um motivo simples: é a partir dela que Russel T. Davies criou a linha do tempo que é a base do novo DW: a guerra entre Daleks e Time Lords que transformou o Doutor no último de sua gente. Disponível em DVD com uma série de extras, é um grande presente para o Whovian na sua família. Natal tá aí, né?…

Com esse arco, Baker se estabeleceu como o Doutor para uma nova geração de fãs – dez anos depois, as aventuras da cabine de polícia voadora se tornaram o programa imperdível dos sábados. No entanto, haja criatividade para manter a bola rolando: entre monstros diversos, cientistas malucos e outros perigos constantes, provavelmente não há coisa esquisita que não tenha aparecido na tela de DW durante os anos do Quarto Doutor. Para completar,  Tom Baker acaba se identificando tanto com o papel a ponto de, por vezes, não conseguir distinguir criador de criatura e não conseguir mais abandonar os trejeitos do Time Lord. E isso acaba se tornando um problema, como veremos no próximo episódio…

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